Foi este o título da terceira das conferências quaresmais de 2012 na Catedral de Notre Dame, em Paris, este ano versando o tema geral: A solidariedade, exigência ética e esperança espiritual.
Da conferência de Jean-Pierre Jouyet, presidente da Autoridade dos mercados financeiros, são as seguintes afirmações, particularmente significativas, dada a posição do conferencista no coração do sistema financeiro francês.
É o capitalismo que está em causa ou é a avidez individual que o alimenta? O “cada um por si” prevalece, incluindo entre os Estado, e não estamos longe de um proteccionismo financeiro, que de facto se instala, em tudo semelhante ao proteccionismo comercial dos anos 30 com os perigos que o acompanharam.
(…)
Cada um e, em primeiro lugar, os responsáveis políticos, económicos e financeiros deve olhar-se ao espelho e perguntar a si próprio se aquilo que faz é útil ao bem comum, se a acção que empreende assenta na justiça e na eficácia. (…)
Importa que repensemos a nossa relação com o materialismo, em que o dinheiro é tudo. O dinheiro tornou-se, de facto, um valor absoluto e os movimentos financeiros já não têm senão uma relação longínqua com a troca de bens. (…) O dinheiro – e isso não é um fenómeno novo – pode tornar-se num ídolo, um fim em si que se substitui a qualquer outro valor e no limite ao próprio Deus.
Por sua vez, também o teólogo Gaël Giraud nos adverte contra o risco de fazer do dinheiro um absoluto. São dele as seguintes afirmações:
Que fizemos nós senão transferir para os mercados financeiros os atributos que a teologia atribuía a Deus? Não declarámos que os mercados são “omnipotentes”, “omniscientes”, que procuram sempre o maior bem de todos? Não teríamos já construído um Bezerro de ouro - estes mercados financeiros anónimos aos quais, acreditamos, conviria hoje sacrificar tudo como outrora ao deus Moloch? Como é possível que tenhamos sacrificado o ideal europeu às relações de força do mercado?
(...)
Sair da sacralização do Veado de ouro exige de nós uma verdadeira conversão do coração. O ouro não se come. É essa a constatação amarga que Moisés impôs aos seus, quando, tendo descido do Sinai, decidiu fundir o Vitelo de ouro e fazê-los beber o pó do ouro fundido misturado com água. Os activos financeiros também não se comem. E os programas informáticos que hoje materializam o essencial da nossa moeda não falam (Sl 115,20). É preciso que renunciemos à aniquilação idolátrica em que nos mergulha a esfera financeira há uma geração.
(Excertos do jornal La Croix)
Sugiro, a quem compreenda francês,
ResponderEliminaro discurso de Jouyet.
Diagnostica muito bem o problema financeiro na actualidade. Fala do problema principalmente na vertente antropológica e da mutação civilizacional.
Para ouvir, reflectir e agir.
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- Maria José Melo Antunes
Boa sugestão esta da Maria José. Vou aproveitar
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