01 novembro 2011

À escuta do mestre interior
Preparar a nova estação dentro de nós

O grande risco é de nos deixarmos mergulhar numa vida inautêntica, uma vida que não é vida, feita de imagens e de aparências.
Tolentino de Mendonça, in Pai-Nosso que estais na Terra
 


Uns mais, outros menos, todos vivemos sob os efeitos de uma grave crise, que começou por despoletar no coração do sistema financeiro americano, mas que, rapidamente, se globalizou e tem vindo a contagiar a economia, as relações sociais e o nosso modo de pensar e de viver.

(...)

Como vamos sair disto?

O pior que poderá acontecer é que, por ignorarmos ou abafarmos a voz do nosso ser interior, caminhemos para uma vida inautêntica, marcada pela submissão às forças exteriores e mundanas, deixando-nos colonizar pelo marketing e manipular pelos opinion makers.
"Coming to Visitors Hand“
Don Johnston. 2010

É nestes tempos de convulsão que mais carecemos de escutar activamente a voz da nossa própria consciência e de nos deixarmos interpelar pelo Mestre interior que nos habita e nos religa à fonte da Vida, donde procede a verdadeira sabedoria.

(...)

Cabe lembrar, seguindo Van Graaf Durckheim, que o ser humano tem uma dupla origem: uma celeste, a outra terrestre; uma natural, a outra sobrenatural. É no encontro harmonioso desta dupla dimensão que o ser humano pode realizar plenamente a sua existência e deixar a sua marca específica na vida colectiva do seu tempo.

(...)

Melhor ainda, se pudermos partilhar esta escuta em alguma comunidade de caminho espiritual, beneficiando da experiência de uns e de outros dos seus membros e aprendendo com os seus êxitos e fracassos e se lograrmos criar espaços de celebração da Vida.

Termino esta reflexão com as palavras esperançosas de Etty Hillesum escritas no campo de concentração onde acabaria por morrer: Meu Deus, esta época é demasiado dura para gente frágil como eu. Mas sei igualmente que a seguir a este, outro tempo virá. Gostava tanto de continuar a viver para transmitir, nessa nova época da história, toda a humanidade que guardo dentro de mim, apesar de tudo aquilo com que convivo diariamente. Essa é também a única coisa que podemos fazer para preparar a nova estação: prepará-la já dentro de nós.


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