Foi editado, há poucos dias, um livro de Luciano Manicardi, com o título “a Caridade dá que fazer”. Nele se procura redescobrir a actualidade das “Obras de misericórdia”.
Tive a honra de fazer o prefácio para a edição portuguesa deste livro e, como nele deixei escrito, considero particularmente rica a ideia de que existe uma caridade da razão. Com efeito, trata-se, a meu ver, de uma mensagem de extrema actualidade no tempo que atravessamos, dias maus, como lhes chama o autor.
De facto, vivemos numa encruzilhada de caminhos: alguns parecem sem saída, mas continuam a seduzir quem, entretanto, se vai aproveitando dos seus privilégios e mordomias; outros, ainda mal conhecidos, apresentam-se com as dificuldades inerentes ao imprevisível e com a aspereza própria das inevitáveis mudanças e a insegurança que estas comportam.
A crise que se vive na Europa e, designadamente, em Portugal, não é apenas, como alguns supõem, um mero desacerto de contas de deve e haver nas balanças comerciais ou nas contas públicas dos vários estados; é, sim, uma crise de valores, de civilização e de modelo económico e sociopolítico. Uma crise dos fundamentos ideológicos e dos alicerces institucionais em que assenta a nossa vida colectiva.
Nesta perspectiva, tem toda a pertinência defender a necessidade de iluminar a própria razão com a perspectiva do amor.
A caridade não diz respeito apenas ao comportamento e ao modo de ser de cada indivíduo. Citando Luciano Manicardi: é necessário que a razão política seja enxertada na caridade e na justiça, saiba que é habitada pela caridade, ou seja, pelo sentido do sofrimento do outro, pelo sentido do seu carácter único e irrepetível, pelo sentido do humano presente em cada ser humano antes de cada uma das suas definições.
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[ Texto integral ]
Imagem: Yellow Flower Growing in Sidewalk - Heather Hryciw . 2007
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