Trata-se de uma releitura das “obras de misericórdia” feita com o olhar do biblista e monge do Mosteiro de Bose: um olhar que integra o conhecimento teológico com os contributos científicos da antropologia e da psicologia; um olhar atento à cultura contemporânea e aos desafios da civilização ocidental nestas primeiras décadas do século XXI.
Do prefácio que escrevi para este livro, cito três parágrafos que espero possam avivar o desejo de não passar ao lado de mais esta obra da colecção “Poéticas do viver crente”, em boa hora iniciada pelas Paulinas Editora.
Falar das “obras de misericórdia”, como se propõe o Autor deste livro, é procurar tornar visível e palpável as diferentes declinações da caridade, vertendo esse dinamismo interior, que é o amor, em gestos, atitudes e obras, de resposta às situações de sofrimento humano, de modo a que fique claro que a caridade não é um mero sentimento, uma aspiração vaga e etérea, uma opção facultativa, mas antes um modo de os seres humanos habitarem o mundo e de humanizarem as relações entre os seus habitantes e os seus projectos de organização da economia e da sociedade.
A reflexão de Luciano Manicardi assenta no pressuposto de que a caridade tem uma dimensão histórica: é no aqui e agora que ganha concretização, assume corpo de resposta aos desafios próprios do tempo e do lugar, indo ao encontro das pessoas e das situações em que vivem. Por isso, o Autor recorda que a Igreja tem a responsabilidade histórica da narração da caridade.
(…) é particularmente interessante a ideia de que, nestes dias maus, como qualifica o tempo presente, é importante lembrar, antes de mais, que existe uma caridade da razão: é necessário que a razão política seja enxertada na caridade e na justiça, saiba que é habitada pela caridade, ou seja, pelo sentido do sofrimento do outro, do sentido do seu carácter único e irrepetível, do sentido do humano presente em cada homem antes de cada uma das suas definições.
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