A fé não nos afasta do mundo. Bem pelo contrário, a fé exige do
discípulo/a de Cristo uma presença actuante na construção da Cidade, feita de
atenção aos sinais do tempo, às necessidades das pessoas, sobretudo das mais
fragilizadas, e aos demais desafios da convivência humana nas suas
múltiplas vertentes. O mesmo se pode dizer das Organizações e Movimentos de
matriz cristã, que deverão estar na linha da frente na denúncia das injustiças
e na proposta de caminhos de justiça, unidade e paz.
Nem poderia ser de outro modo, porquanto a fé está intrinsecamente
ligada ao amor, como a recente encíclica A
luz da fé faz questão de sublinhar: A
fé nasce do encontro com o amor gerador de Deus que mostra o sentido e a
bondade da nossa vida; esta é iluminada na medida em que entra no dinamismo
aberto por este amor, isto é, enquanto se torna caminho e exercício para a
plenitude do amor (n.51).
Uma fé que não entre no dinamismo do amor e não se traduza em
sinais proféticos com visibilidade na construção de um mundo justo e solidário
fica presa de rituais, reduzida a um pietismo vão ou a uma moralidade estéril.
A fé é luz que ilumina a existência humana em todas as suas
facetas e aponta caminhos de fraternidade, de cuidado, de justiça na partilha
dos bens, de solidariedade, de unidade e de paz, porque se alimenta do amor.
Assim sendo, o alcance de uma fé autêntica vai muito para além do
indivíduo e da consciência de cada pessoa; deixa marcas na arquitectura das
relações humanas, no modo de organizar as economias e a vida em sociedade, na
cultura dos povos e na política, aos vários níveis.
Neste mesmo sentido, a encíclica publicada pelo Papa Francisco sublinha:
A fé faz compreender a arquitectura das
relações humanas, porque identifica o seu fundamento último e destino
definitivo em Deus, no Seu amor, e assim ilumina a arte da sua construção,
tornando-se um serviço ao bem comum. E conclui: Por isso, a fé é um bem para todos, um bem comum.
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