01 junho 2013

A Alegria do Sim

O Homem é a alegria do sim na tristeza do finito.
Paul Ricoeur

A “tristeza do finito” de que fala Paul Ricoeur não se circunscreve à experiência humana da morte física que a todos atinge, ricos ou pobres, novos ou velhos, sábios ou incultos. 

Aquece tu, ó sol, jardins e prados!
-  pormenor  -
© Vitória Vaz Pato. 2013
Hoje, a “tristeza do finito” conhece o perímetro alargado de uma crise civilizacional em que nos vemos mergulhados/as desde há décadas e que teve a sua erupção mais mediática com os primeiros alarmes em torno dos riscos ambientais, e, posteriormente, com as sucessivas crises financeiras, a decorrente estagnação ou retrocesso das economias de muitos países e as múltiplas e gravíssimas consequências sociais que lhes estão associadas, com destaque para o desemprego galopante, o empobrecimento de largos estratos populacionais de par com a concentração da riqueza num pequeno grupo privilegiado e, mais recentemente, o progressivo enfraquecimento do estado social.

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É neste contexto que os gestos e as palavras do Papa Francisco ressoam na nossa tristeza do finito como a alegria do sim. São gestos e palavras que apelam à profundidade do ser humano enquanto ser relacional e à liberdade de criar nova formas de organizar a economia e a sociedade que tenham em conta a centralidade da pessoa humana e a sua dignidade, para além de todos os condicionalismos da existência. São desafios que se dirigem aos cristãos e às suas comunidades, mas também aos não crentes e aos governantes das Nações e das instituições supra nacionais.
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Também a sua palavra é veículo da “alegria do sim”. Ainda recentemente, em discurso dirigido a novos embaixadores junto da Santa Sé, o Papa Francisco aproveitou para denunciar que a maior parte dos homens e das mulheres do nosso tempo continuam a viver numa precariedade quotidiana com consequências funestas. Aumentam algumas patologias, com suas consequências psicológicas; o medo e o desespero arrebatam os corações de numerosas pessoas, mesmo nos Países considerados ricos; a alegria de viver começa a diminuir; a indecência e a violência estão em aumento; a pobreza se torna mais evidente.

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A gravidade da situação a que chegamos é tal que a crise pode fazer surgir novas energias de conhecimento e de acção e abrir caminho a indispensáveis mudanças. Acredito que estamos no limiar de um tempo favorável a que repensemos as nossas opções de vida pessoal e colectiva e a que nos mobilizemos para fazer surgir um “mundo” novo, de rosto humano.

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