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Na sociedade contemporânea, o trabalho profissional tornou-se, simultaneamente, uma aspiração básica e um temido tormento.
Em primeiro lugar, porque ter trabalho é a condição normal de acesso ao rendimento, no presente e no futuro, e, consequentemente, constitui o meio corrente para a maior ou menor disponibilidade de bens materiais e, por via indirecta, é garantia de bem-estar material.
Em segundo lugar, porque o trabalho é também uma oportunidade de socialização e de participação na vida colectiva, um factor de estatuto social e reconhecimento. Não ter trabalho na idade activa é, só por si, factor de desqualificação e exclusão social, mas é igualmente de recear ter um trabalho escravizante e desqualificado.
Em terceiro lugar, porque o trabalho tem uma dimensão subjectiva, que não pode ser ignorada, e por isso deve ser tal que constitua um meio de realização pessoal. Quem trabalha precisa de ter motivos para acreditar no sentido daquilo que faz e para esperar o devido reconhecimento (remuneração, condições e direitos) pela função que realiza.
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De Claudio Teixeira, um comentário muito enriquecedor e que muito agradeço. MS
ResponderEliminarEste texto lembra-nos como estamos longe do trabalho factor de desenvolvimento humano, quando, para a grande maioria, o trabalho só pode significar ganha-pão, materialmente, e também culturalmente: muito, muito longe da “qualidade de vida”.
“Nem só de pão vive o homem”, mas, na situação hoje dominante, ele dificilmente ouvirá palavras que dêem sentido à vida e muito menos as perceberá/percepcionará como vindo “da boca de Deus”.
Também não resisto a uma nota etimológico-semântica: “trabalhar” (assim como “trabajar” ou “travailler”) vem de “tripalium” - instrumento de tortura com que os soldados romanos obrigavam o povo a trabalhar, nomeadamente na Hispania e Galia. O “trabalho” como sacrifício, como obrigação, como “temido tormento”, é bem diferente de “work”, de “werk” (obra, em alemão), de “ergon” (grego clássico) que remetem para “obra”, produzir algo de útil. São palavras com origens de significado correspondendo a contextos socioculturais diferentes, que hoje já não existem.
O trabalho como “temido tormento” até nisso é um retrocesso.
Cláudio Teixeira