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O ruído é, cada vez mais, o pano de fundo do habitar na cidade e com ele nos habituamos a conviver acriticamente. Mas não sem custos, em termos pessoais e colectivos, tanto mais sérios quanto, em regra, só tardiamente deles nos apercebemos.
A primeira consequência negativa é a de que o homem e a mulher urbanos desaprenderam o valor da calma e da contemplação da natureza, o que é factor de embotamento da sensibilidade e de perda de capacidade de admiração e reconhecimento pelos dons de que usufruímos e, consequentemente, é gerador de uma insatisfação permanente e avidez doentia. A doença do stress, espelhada no consumo exponencial dos anti-depressivos, é um indicador inequívoco deste mal hodierno.
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Face a estes desafios, há, certamente, pistas de prevenção e minimização destes riscos, tanto a nível pessoal como colectivo: não quererá o leitor ou leitora contribuir com os seus comentários e sugestões?
Para os cristãos, as semanas que seguem são tempo propício à escuta da Palavra de Deus e à consequente revisão de vida. Não será esta uma ocasião oportuna para eliminar das nossas vidas aqueles ruídos que podemos evitar, ganhando tempo para maior interioridade e centramento no essencial da nossa condição humana e divina?
Este texto parece escrito de propósito para mim...
ResponderEliminarPor coincidência, ontem uma amiga sugeria-me que, tal como outras pessoas deixam de comer chocolates durante a Quaresma, nós as duas podíamos deixar de ler blogues de mulheres fúteis. Para além de ser uma tentação que não nos faz bem, não gastar tempo com isso permite libertar tempo para algo mais criador - nem que seja o silêncio.
Bem sei que acabei de escrever uma banalidade, mas é um ovo de Colombo que redescubro nesta Quaresma.
Outra sugestão, já que a pediram: exercícios espirituais no dia-a-dia. Tenho-os feito com o apoio da minha Paróquia, no Advento e na Quaresma.
Ou uma versão mais simples: levantar-se um pouco mais cedo, "varrer-se por dentro" para fazer espaço para o silêncio interior, olhar para o dia que vem - o que me alegra, o que me provoca ansiedade - e colocar o dia nas mãos de Deus. São quinze minutos que nos permitem atravessar o dia com outro distanciamento e muito menos ansiedade.
Obrigada, Helena, pelas tuas sugestões, muito práticas e coladas à vida. Espero que encontrem eco em quem deseja "ouvir do vento".
ResponderEliminarManuela
Obrigado pelo apelo ao silêncio interior.
ResponderEliminarSugestões: além da óbvia eliminação de grande parte dos outdoors que escondem a natureza, a seguinte:
os padres, na eucaristia domincal, aproveitarem pedagogicamente a pausa que se segue à comunhão, para que os cristãos, comungantes ou não, "se façam silêncio" diante de Cristo (Acabo de enviar esta sugestão ao pároco da paróquia onde vou ao domingo, como ele é dos poucos que o fazem, pois que continue; também lhe sugeri ir ao "ouvidodovento" ver o texto da Manuela))Cláudio Teixeira, 2/3/10
Estas são as boas surpresas do dia!
ResponderEliminarChegar aqui e encontrar-vos a ler e a comentar o "Escrito do Mês".
Já que vamos na onda das sugestões deixo também a minha:
Passo a Rezar
Espreitem e se tiverem um mp3 aproveitem melhor ainda!
Entretanto, lembrei-me de mais algumas coisas:
ResponderEliminar- Este site, que me passaram hoje:
http://www.retraitedanslaville.org/
- Um ritual nosso do tempo em que morávamos junto do mar: ao fim da tarde de domingo fazíamos uma fogueira na praia (na parte onde isso era permitido) e passávamos revista à semana que acabava, enquanto o pôr-do-sol enchia tudo de sossego.
- Um outro ritual, de quando os miúdos eram mais pequeninos: quando nos encontrávamos em casa, depois do trabalho (que, naquela época e na Alemanha era por volta das cinco da tarde), antes de começar os afazeres do fim do dia sentávamo-nos os dois para conversar durante quinze minutos: retomar o fio à meada da vida antes de sermos atropelados pelo stress do quotidiano.
- Quando vim morar para a Alemanha, há mais de vinte anos, as lojas fechavam todas ao fim da manhã de sábado, e só reabriam na segunda-feira. Fascinou-me ver que as pessoas tinham uma cultura de tempos livres e de encontro que não passava pelos centros comerciais. Ir passear para um parque ou para a floresta, ir dar uma volta de bicicleta, construir barquinhos de pau para fazer corridas num riacho - toda uma cultura de saber parar e saber respirar a natureza.
Helena
ResponderEliminarMerci pelo link! sugerido.
Já espreitei!
Para além de estar de acordo contigo, embora não te consiga acompanhar em tempo real, escolho a ideia de "saber parar e saber respirar a natureza".
;)
Passei, agora, a ver os comentários: tantas sugestões "portadoras de futuro" de um mundo mais humano, aberto aos valores da beleza e da paz!
ResponderEliminarDá esperança sentir a convergência de olhares e vozes que se vão fazendo campo fértil para uma indispensável mudança de civilização.
A quem tomou a iniciativa de se associar a esta reflexão o meu agradecimento.
Manuela
Falando do silêncio...
ResponderEliminarNão só o ruido e a pressa impedem de alcançar o eu profundo, mas também “o medo do silêncio”. Visto como um vazio estéril e nâo como um útero fecundo onde o vivido pode sedimentar-se, ser filtrado e germinar modelando a nossa singularidade.
No inízio o silêncio precisa de ser bebido aos goles, como uma breve pausa, sempre crendo que no silêncio o nosso intimo torna-se criador.
Mas depois torna-se o nosso amigo e companheiro.
Fantástico Nicoletta!
ResponderEliminarE em português...
Como sempre, temos o gosto de reunir aqui um conjunto de opiniões que rumam no sentido da procura da Vida Boa.
Um abraço
Manuela e Céu