01 outubro 2009

Por uma ética de humanização e convivialidade

Temos sinais preocupantes de que vem crescendo uma perigosa crispação na nossa sociedade.

São sinais notórios: a nível da linguagem (basta dar atenção às formas de tratamento usadas entre jovens - e menos jovens!); nas relações correntes (transportes, compras, atendimentos nos vários serviços, etc.); nas relações em meio escolar, onde a tradicional camaradagem se converte, muitas vezes, em disputa agressiva pelos melhores lugares; no discurso político deslizante para a maledicência e a ofensa pessoal; na comunicação social e suas telenovelas, onde é regra a intriga e a violência, servidas como padrão subliminar de comportamento.

(...)

Entre os cenários de futuro possível, o mais trágico é aquele que assume como inevitável a barbárie que se perfila no horizonte, porque de um tal cenário se destilam comportamentos do tipo “salve-se quem puder”, predadores de um património universal de humanização.

(...)

[ Texto integral ]

Man Yelling into Megaphone at Other Man - Alberto_Ruggieri, 2008

3 comentários:

  1. Faz-nos bem ler um texto.como este, sobretudo a quem, como eu, teve por vezes a ilusão de a ética se implantar como que "sistemicamente". Penso que nunca é demais lembrar a importância dos comportamentos quotidianos e de como a família e a escola são os seus grandes semeadores.
    Cláudio Teixeira 5/10/09

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  2. Agradeço ao Cláudio Teixeira o seu comentário sucinto, que tão bem sublinha o essencial do escrito.
    Com autorização prévia do seu autor, transcrevo na íntegra o comentário mais vasto que me enviou.
    Quem vier a ler esta versão mais extensa, certamente, há de apreciar.

    "Faz-nos bem ler um texto, como este, em que se apela a “uma ética de humanização e convivialidade”. Sublinhei “convivialidade”, porque tal palavra faz bem, sobretudo a quem, como eu, teve por vezes a ilusão de a ética se implantar como que “sistemicamente”. Penso que nunca é demais (sobretudo hoje em dia) lembrar a importância dos comportamentos quotidianos e de como a família e a escola são os seus grandes semeadores.
    A minha neta maior (hoje 15 anos), quando tinha 3 anos, trazia para casa brincadeiras tais como “vamos conversar? – que tu fizeste?” e lá ia imitando que escrevia num bloco (a mão esquerda) com o pequenito indicador direito o que íamos respondendo. Hoje, a minha neta mais pequena (6 anos) anda com receio dos meninos (sobretudo rapazes) que, na escola, “se portam mal”, fazem barulho na aula, não deixam estar com atenção, etc.
    Se comportamentos negativos se tornarem dominantes e vistos ou como coisas menores ou como inevitáveis ou ainda como não censuráveis (“que mal há nisso?”), então o tal cenário de barbárie poderá começar a envolver-nos. De acordo com a psicologia social, a adesão a valores, além de racional, tem uma base afectiva e consolida-se através de comportamentos que com eles são coerentes ou por eles são exigidos. Sem a sua prática, os valores esmorecem, esquecem-se, negam-se. De certo modo, os valores “demonstram-se” pelos efeitos das práticas que os tomam por referência.
    E o cristianismo, nos seus primeiros tempos, foi-se implantando, não só pela palavra, mas pelo testemunho comportamental dos cristãos."

    Manuela Silva

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  3. Tocou-me especialmente o desenho futuro de "uma ética partilhada".
    Estamos de facto, num tempo em que nos cruzamos com pessoas muito diferentes nos credos e sem eles que têm em comum uma preocupação com a justiça, com o bem comum com o cuidado pelas novas gerações.
    Entre estes é possível criar pontes alargando assim a consciência de uma ética que faz contra ponto a uma sociedade fragil em humanidade.

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