01 abril 2009

A "vertical do lugar"

(…)
Podemos viver algum tempo (por vezes demasiado tempo!) sob o signo de rotinas paralisantes ou deixar-nos atordoar por fantasias e distracções alienantes, mas chegará o momento em que, por uma ou outra razão (por vezes uma separação, uma doença, o encontro com a ideia da morte, uma qualquer significativa perda), vem à superfície do nosso ser o fundo de essência, de absoluto, de infinito, que nos habita e de que somos feitos, qual elemento escondido de um nosso remoto ADN. Serão momentos de luz e deslumbramento ou de perplexidade e temor, mas que sempre nos remetem para um além de mim que, estranhamente, não está fora, mas dentro de mim. Surgem como um vislumbre de um ápice, de uma inteireza, de uma unidade cósmica. (…)

A curta distância da Páscoa, haverá ainda tempo para nos confrontarmos com este mistério que nos habita e está escondido (abafado) na roupagem dos nossos quotidianos, para neles descobrir a vertical do lugar e assim melhor acolher e saborear a vida nova que a Páscoa anuncia e realiza.


Votos de boa Páscoa!

[ Texto integral ]

Imagem: Winged Figure Chained to Hand - James Endicott

2 comentários:

  1. Que maravilha de texto!
    Sinto que cada vez há mais pessoas a desejar escutar o silêncio para ser possivel viver a vertical do lugar no nosso quotidiano. Parece-me que se alarga uma consciência mais profunda na humanidade tornando a comunicação mais verdadeira.

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  2. Apreciei muito este Escrito e ainda ando a "digeri-lo". Vou gerundiando...

    Ontem, li também isto que vos deixo aqui ao jeito de partilha:

    “Pergunto-me por que razão tantas pessoas que experienciam a melancolia estão agora a tomar comprimidos que se destinam simplesmente a eliminar a dor, a transformar outra vez olhares carrancudos em sorrisos. Claro que a fronteira entre o que estou a designar por melancolia e aquilo a que a sociedade chama depressão não é assim tão clara. Para mim, o que as separa é o grau de actividade. Ambas as formas constituem, em diferentes medidas, uma tristeza crónica que conduz a um desconforto crescente com o estado das coisas - uma sensação persistente de que o mundo não está bem como está, de que é um lugar de sofrimento, estupidez e mal. A depressão (pelo menos, tal como eu a vejo) causa apatia face a este desconforto, uma letargia que se aproxima da paralisia total, uma incapacidade de sentir o que for, seja como for. Pelo contrário, a melancolia (tal como eu a vejo) dá origem a um sentimento profundo relacionado com esta mesma ansiedade, uma turbulência do coração que resulta num questionamento activo do status quo, uma ânsia perpétua pela criação de novas formas de ser e de ver. ”

    Eric G. Wilson,
    CONTRA A FELICIDADE - Em Defesa da Melancolia

    Agora parto para Betânia, para, como diz a Manuela Silva - "... melhor acolher e saborear a vida nova que a Páscoa anuncia e realiza."

    Santa Páscoa a todos/as!!!
    Um Abraço

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