01 julho 2020

Revitalizar as raízes da Esperança



As generosas utopias que fizeram acreditar na superação de problemas graves, tais como a fome no mundo, as guerras em larga escala ou as doenças endémicas, geraram uma vaga de optimismo que durou décadas. Foram muitos aqueles que acreditaram num mundo novo, em rápida gestação e com nascimento anunciado. O próprio Concílio Vaticano II reflectiu em parte este optimismo generalizado que atingiu o seu auge nas décadas de sessenta e setenta, mas que começou a desintegrar-se na parte final do pretérito milénio.
(...)
É sinuoso e moroso o caminho da nossa conversão interior. Não nos admiremos que também seja demasiado lenta a transformação do mundo. Toda a nossa vida não basta para o transformar, pois chegaremos à nossa hora com a consciência de ter deixado muitas tarefas incompletas. Mas isso, em vez de constituir motivo de desânimo, deverá afervorar o nosso sentido de missão, como nos exorta o Apocalipse, escrito justamente para ajudar os crentes a alimentar a esperança em períodos difíceis.
Diz o povo que a Esperança é a última coisa a morrer. Sendo a última a morrer, é também a que alimenta as demais. Até por isso, deverá ser a primeira a ser vivida e a ser testemunhada acima de qualquer outra. Mas nunca o será, se nos fecharmos em nós mesmos, numa espiritualidade sem próximo e sem história.

Manuel António Ribeiro 
– Porto. 2007

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