dá-nos a graça de voltar
aos
sítios fundadores
que
nos iniciem no gosto das coisas
e
de nós próprios
e
que a memória do dom
desperte em nós o dom
do
encontro sem medida.
José Augusto Mourão,
in O Nome e a Forma
Regresso deste mês de Agosto com
uma convicção, mais firme do que nunca, de que todo o ser humano
é um ser em devir, um ser em construção, que só encontra a sua
realização autêntica quando se dispõe a entrar numa dinâmica
permanente de escuta e resposta, que combine os seus desejos
íntimos com a realidade exterior em que está inserido. Quando
tal dinâmica afrouxa, a vida pessoal torna-se amorfa,
coisifica-se, e a singularidade esperada de cada vida humana
esfuma-se, deixando um inevitável rasto de insatisfação e
alienação.
Bird taking an offer of food © Beowulf Sheehan |
Muitas das pessoas que conhecemos,
incluindo entre as gerações mais jovens, sofrem desta grave e
preocupante doença social, que se manifesta sob a forma de
acomodação e passividade ou, em modalidade mais agressiva, o
individualismo do salve-se quem puder, doença contra a qual
julgam poder lutar, erguendo muros de indiferença ao sofrimento
ou refugiando-se em torres de marfim aonde não entrem clamores
alheios.
(...)
(...)
Aprender a ser para os outros e
pô-lo em prática, nos mais ínfimos actos e nas mais banais
escolhas, é, na nossa sociedade e no tempo presente, uma
prioridade realista e urgente, que importa passar às novas
gerações, sobretudo através de um testemunho pessoal e
comunitário que desperte o gosto pela Vida e o sentido de
responsabilidade por conservá-la e fazer frutificar, dando lugar
ao outro, criando e fortalecendo laços, valorizando a
solidariedade e o empenho pelo bem comum.
Como adverte José Augusto Mourão, há que saber voltar aos sítios fundadores, ao gosto das coisas e de nós próprios, à memória do dom e do encontro sem medida.
[ Texto Integral ]
Sem comentários:
Enviar um comentário
A publicação de comentários está sujeita a moderação.
Administração do Ouvido do Vento