Ainda há muita gente que
confunde religião com espiritualidade, mas trata-se de duas realidades diferentes.
Num pequeno texto, de circulação interna, Fernando Belo, Professor da Faculdade
de Letras de Lisboa, vem chamar a atenção para a necessidade desta distinção. Esta clarificação é
fundamental no caso do cristianismo.
Como diz Fernando Belo: No evangelho, a distinção é clara desde o
início: o apelo à conversão com o baptismo como ritual de ruptura, tendo sido o
mundo político-religioso quem condenou os dois que apelavam à conversão, João
Baptista e Jesus. Este opôs Deus não apenas ao Dinheiro (Mateus 6,24) e ao
poder político ocupante de César (idem 22,21) mas também ao Deus dos mortos
(“ele não é um Deus de mortos mas de vivos”, Marcos 12,27), isto é, ao poder
religioso do Templo, como mostra uma palavra dirigida a alguém que queria
seguir o mestre mas primeiro devia enterrar o seu pai: “deixa os mortos
enterrarem os seus mortos” (Lucas 9,60); o Deus dos mortos é o dos antepassados
mortos e enterrados, donde deriva a religião. Durante alguns séculos, o
cristianismo foi um movimento espiritual no meio de outros no império romano,
foi mesmo perigoso ser cristão em certas épocas, mas depois os Césares escolheram-no
como religião oficial em vez da ancestral. Em poucas gerações no Ocidente, o
cristianismo tornou-se religião holística ancestral, o baptismo tornado rito de
bebés, sinal evidente da mutação. Mas há outro sinal muito mais óbvio: a partir
daí, a religião não deixou de parir nas suas margens movimentos espirituais que
se referiam à aposta evangélica adulta contra os senhores deste mundo.
O Papa Francisco com a sua
palavra profética e testemunho de vida em gestos simples mas cheios de
simbologia (por exemplo, a sua opção de não habitar no Palácio do Vaticano!) é
um apelo eloquente a que temos de cuidar da espiritualidade evangélica e,
através da vida pessoal e das comunidades cristãs, torná-la presente no mundo
em que vivemos, nas famílias como nas empresas, na vida política como nas
instâncias de regulação financeira, uma espiritualidade que permeie a cultura e
inspire e motive as opções do quotidiano.
Este modo de viver a fé
cristã, hoje, será uma ponte necessária para saber acolher outras
espiritualidades e com elas cooperar na concretização de um mundo mais justo,
solidário e sustentável.
Concluo com o final do texto
que inspirou esta reflexão:
Faz
parte de ser espiritual hoje que, crentes ou não, demos as mãos – livres e
solidárias – contra a dominação da alta finança sobre o medíocre poder político
e os médias ao seu serviço.
Obrigada por esta chamada de atenção tão assertiva.
ResponderEliminarAo jeito de exemplo do que é uma Espiritualidade em Acção para o nosso tempo deixo o exemplo desta Amiga de Betânia...
AQUI
e
AQUI
Mas que bela inspiração a tua: fazer link para o site da Emma Ocaña. E que descoberta... A Emma é de facto exemplo de uma espiritualidade encarnada, atenta e comprometida com os sinais dos tempos, do lado dos injustiçados. Muito obrigada!
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