É outono, o céu está carregado e até os pensamentos parecem cinzentos invadidos pelas memórias de quem nos faz falta…
Vivemos tempos de tristeza e de medo. A pandemia continua a alastras e, sobretudo no período de confinamento, mostrou que todos nos sentimos frágeis impotentes e mais sozinhos. A situação em que se encontram muitos dos nossos idosos é um sinal da decadência do cuidado que contradiz as palavras de circunstância e os discursos vazios.
A degradação ambiental, o prenúncio de outra crise económica… O futuro parece incerto, o nosso e o das gerações mais jovens.
As igrejas poderiam ser oásis de esperança, mas também revelam sinais preocupantes de erosão da participação: nas celebrações, nas iniciativas e no cuidado das comunidades. Nas práticas pastorais gasta-se mais energia para garantir a manutenção do que resta, do que para criar algo novo.
O Papa Francisco trouxe uma lufada de ar fresco e energia, mas a sua reforma encontra oposição dentro da Igreja, que assim aparece dividida por tensões até mesmo marcada por situações escandalosas e destrutivas.
Uma Igreja que se descobre como minoria corre o risco de se fechar em si mesma e de tornar-se autorreferencial – como o Papa Francisco denuncia – preocupada com a própria integridade, atormentada por problemas de funcionamento, focada em questões que nem sempre são da vida real. Talvez por isso Francisco nos comova pelo cansaço que às vezes transparece no seu rosto e pela sensação de solidão que o cerca.
Nada disto é “novo” nem é “normal”. A defesa extenuante do status quo também não pertence à lógica de Deus. Então, como se luta contra o clima depressivo e a apatia, como se resiste à percepção de que “nos falta o ar”?