01 novembro 2018

Espanto e agir consequente

Espanta-te ainda, espanta-te mais uma vez.
(José Tolentino Mendonça, Elogio da sede, 2018)

Foi com as palavras desta epígrafe que Tolentino Mendonça deu início à sua primeira pregação dos exercícios espirituais dirigidos ao papa, cardeais e demais membros da Cúria, na quaresma deste ano. Subjacente a este inusitado convite-desafio, estava o texto do evangelho de João, a narrativa do encontro de Jesus com a samaritana à beira do poço de Jacob e as suas intrigantes palavras “dá-me de beber”. Ele homem judeu e ela mulher samaritana…
Espanta-te ainda, espanta-te mais uma vez, são palavras que nos interpelam e desafiam. A nós que, tal como os seus primeiros destinatários, a dada altura da vida, parece que já vimos tudo, já vivemos e sabemos tudo, e olhamos para a realidade protegidos por aquilo que julgamos ser uma distância de um acumulado saber.
O espanto nasce da atenção que prestamos à vida nas suas múltiplas facetas, no plano pessoal e na relação com os demais seres, no espaço da proximidade e vizinhança ou na lonjura do mundo e do cosmos, no avanço do conhecimento e da tecnologia ou na política. Conjuga-se com a capacidade de surpresa e admiração, com sentimentos de medo ou de júbilo. 
Por outro lado, o espanto suscita curiosidade e interrogação (o filosofar assenta alicerces no espanto!), mas ficará em défice de completude se não nos move ao discernimento contínuo e ao agir consequente. (...)
Créditos de imagem:
Pope Paul VI and Archbishop Oscar Romero pose together in an undated file photo, in Photo courtesy of Oficina de Canonizacion de Mons. Oscar Romero.

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